Uma
velha tradição na região do Semiárido potiguar era olhar para o céu com a
expectativa de adivinhar o dia em que a chuva iria cair. Ou apenas na esperança
de ver a terra molhada. Esse rito foi lembrado pela professora Deusineide dos
Santos Nasário. Segundo ela, sua avó costumava usá-lo para prever o tempo.
Inspirada
por essa lembrança, Deusineide foi conversar, no final de 2014, com a mãe de um
dos seus alunos da Unidade de Ensino Francelino Granjeiro, no município de Pau
dos Ferros, no Semiárido do Rio Grande do Norte. A mãe, agricultora, que
herdara o conhecimento sobre a observação do tempo, explicou à professora o que
sabia. “No dia 8, eles observavam o tempo e relacionavam ao inverno (estação
seca) de janeiro. E assim eles faziam com 9, 10, 11, 12 e 13, justamente os
meses de janeiro, fevereiro, março, abril, maio e junho. Um dia para cada
mês.’’
Com
o retorno às aulas, no ano seguinte, a professora decidiu pôr em prática com os
alunos um projeto sobre a previsão das chuvas no campo à luz do olhar do
agricultor. As atividades começaram no segundo semestre de 2015 com a turma
multiano — a professora trabalha simultaneamente com alunos do primeiro ao
quinto ano do ensino fundamental.
Para
dar início às atividades, Deusineide buscou inspiração em músicas e fábulas
capazes de motivar a produção textual e aguçar a criatividade e a curiosidade
dos alunos. Eles deveriam perguntar em casa como os pais ou avós faziam para
prever as chuvas. E foi surpreendida por muitas histórias, a exemplo do
episódio relatado pela trabalhadora do campo. “Além dessa que a agricultora
dissera, veio a da pedrinha de sal”, diz a professora. “Eles colocam seis
pedrinhas de sal, na Noite de Santa Luzia; cada pedrinha é referente a um mês.
Aí, a pedrinha que amanhecer mais úmida indica por que vai ter inverno
(chuvas).”
Com
base nas experiências relatadas, a professora pediu aos alunos que fizessem,
eles mesmos, a previsão do tempo. Os estudantes foram orientados a ter em casa
um pluviômetro, instrumento que mede a quantidade de chuvas, e observassem o
tempo durante as férias. No início do atual ano letivo, as atividades do
projeto tiveram continuidade. Mas o objetivo da professora, no entanto, nunca foi
o de comparar a previsão dos agricultores com a chuva que realmente caíra no
inverno nordestino.
“O
primeiro objetivo, de comprovar as experiências ditadas pela tradição, foi
deixado de lado”, afirma a professora. “Se fizéssemos isso, tiraríamos a magia
do senso comum do homem do campo.”
Assim,
o objetivo geral passou a ser a valorização do modo de observação dos
agricultores.
Para
encerrar o projeto, Deusineide promoveu uma apresentação, com músicas e peça de
teatro, aberta a toda a comunidade escolar, incluídos os pais das crianças. No
final, a surpresa. “As crianças estavam se apresentando e cantavam: ‘Queremos
chover! Queremos chover!’ E choveu, já no começo de julho.”
De
acordo com a professora, os agricultores sugeriram que as crianças dançassem
todos dias. “Para ver se chove todo dia para a gente plantar.”
fonte: Assessoria de Comunicação Social ( http://portal.mec.gov.br/component/content/article?id=38951)
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